Pedagogia da Felicidade: A grande angular da educação inclusiva para a superação da crise escolar
Na postagem de hoje, trazemos um texto (*) do Professor (**) Antonio da Costa Neto, que foi adaptado para nosso blog. Neste artigo completo, o professor fala sobre a educação inclusiva. Ao longo do texto, aborda como, a partir do seu tripé, a educação inclusiva é fundamental para uma mudança na educação, bem como uma superação da crise escolar. Continue lendo para compreender melhor o assunto!
“A educação é um processo social, é desenvolvimento.
Não é a preparação para a vida, é a própria vida.”
(John Dewey)
Vamos iniciar esta discussão revisitando o grande Paulo Freire quando nos dizia, aliás, muito sabiamente, que é impossível falar de educação sem falar de amor. E, claro, sabemos que é esta sim, a saída possível. Mas resta definir o conhecimento real e profundo do que é este amor em sentido pleno, para além das demonstrações de afeto, das palavras doces, dos indispensáveis carinho e ternura, que, lógico, se incluem no ato de se educar, mas, não é só isso.
A educação inclusiva como forma de ir além
Amar em educação é pensar e fazer inclusividade para além do pensamento simplista e linear da educação para os portadores de quaisquer necessidades especiais conhecidas ou por conhecer. A grande angular da educação inclusiva integra fatos, fenômenos, sonhos e desejos para além desta conduta reprodutiva e convencional. É necessário ir além da diferença física, mental, limitação, dependência ou dificuldade de aprender, de assimilar. Precisamos, sim, incluir os excluídos social, econômica, política, ética, psicológica, ecológica e humanamente falando, dentre outros aspectos, o que, definitivamente, não é pouca coisa.
O que ainda falta é um pensar e um fazer dialéticos, para além do meramente operacional para o quê, parece que boa parte dos educadores ainda precisa melhor se preparar. Eu, particularmente, trabalhei por muitos anos na formação de licenciados e pedagogos onde, de uma maneira geral, pareciam proibitivas e soavam como tabus palavras como ética, economia, política, visão crítica do mundo. São coisas consideradas polêmicas, o que a nossa censura cultural e interna considera como tabu e que deve ficar do lado de fora do muro da escola – muro este aliás, que também devemos questionar, mas isto é assunto para um outro momento. Falemos aqui dos paradigmas da inclusão.
Os paradigmas da educação inclusiva
Inclusão de alunos e professores
Até hoje a dita “escola inclusiva” parece não atuar em consonância com o que teoriza e o que pratica. Num tempo de altas tecnologias, aplicativos e ferramentas tecnológicas de ponta, desconhecem-se professores cadeirantes, portadores de outras deficiências, prédios sem a devida acessibilidade e outras limitações até mais graves neste sentido. São pouquíssimos os educadores afro descendentes, questões de gêneros ainda altamente conflitantes, etc. Isto no plano direto, da relação física, sem falar, obviamente, da filosofia, da política, do aspecto interno que transcendem o ato de se educar no sentido maior da palavra “educação”.
E, Manotoan (2007), diz-nos muito sabiamente, que as escolas inclusivas propõem um modo de se constituir o sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas mesmas necessidades. A inclusão causa, portanto, uma mudança na perspectiva educacional. Isso porque não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades estas ou aquelas, mas apoia a todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na ação educacional, e, espera-se, naturalmente, que isto traga um impacto positivo na qualidade de vida em sociedade – portanto, também, e, principalmente, fora da escola.
A educação inclusiva como formação de cidadãos
No que Durkheim, na clássica sociologia já nos alertava sobre a realidade social como balizadora da qualidade da educação e da escola, o que, parece-me, não muito animador nos dias de hoje. Segundo o autor, a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na pessoa estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no seu conjunto.
E completa: a construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios — sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento — que balizam a conduta do indivíduo num grupo maior, definindo-se, assim, os padrões de vida que se podem obter. Pois o homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela; cabendo, portanto, à educação e à escola respaldar mentalidades, culturas e posições humanas em especial que levem à construção, não só de resultados, mas, também, de processos dentro de uma sociedade maior e todas as suas circunstâncias.
O tri-pé da educação inclusiva
Assim refletindo chegamos à conclusão de que já passa da hora da educação e da escola adotarem o que denominamos, didaticamente, de um novo “tri-pé”. Ou seja, os três fatores básicos de um novo paradigma da educação para o terceiro milênio. Paradigmas estes que constituem o Projeto Pedagogia da Felicidade e as ferramentas educacionais que a iniciativa dual Suave/Livox vem implantando em todo o território nacional, em seus programas de atualização dos profissionais da educação e os demais competentes da ampla e sem limites, comunidade escolar.
Este “tri-pé” pode e deve ser, pelo menos do nosso ponto de vista, assim identificado:
1- Capacitação dos professores
Capacitação permanente, em geral dos educadores, e, em particular, dos professores, tendo como novos referenciais o ideal político, a filosofia da educação; os princípios que norteiam o instruir para um modelo de reprodução da sociedade que aí está ou o educar numa perspectiva de transformação, ou a busca permanente da melhoria concreta da qualidade de vida humana em sociedade, sem o que é nulo e um desperdício sem precedentes qualquer projeto que se queira educacional.
Ainda neste aspecto é preciso que os educadores saiam de suas zonas de conforto e percebam o lado negativo, o prejudicial, o que deve ser evitado e, em especial, o que e como deve ser feito ao longo do fazer educativo, sobre o que devemos todos nos debruçar enquanto há tempo.
2 – Conhecer as necessidades dos alunos
Diagnosticar e conhecer, fugir dos padrões convencionais de que o aluno é uma “tabula rasa” que chega na escola em branco e que você pode, livremente, conduzi-lo para este ou aquele espaço do saber e do conhecimento, simplesmente, porque sim e pronto. Nada disto.
As pessoas, as crianças não são fabricadas sob padrões como numa esteira de produção advinda da já superada revolução industrial. Cada ser é especial e é preciso que se conheçam e se considerem especificidades, capacidades, desejos, sonhos, expectativas, metas, dificuldades; e, enfim, adotando formas e fórmulas personalizadas, ou seja, que reconheçam e atendam especificidades e indivíduos, desde as normas, disciplinas e regras, até os componentes dos currículos, programas, instrumentos de avaliação, o que, é lógico, aprenderemos juntos tomando, a partir daí as necessárias e assertivas decisões.
3 – Adotar práticas inovadoras
Adoção, finalmente, de práxis educativas fundamentalmente inovadoras no sentido de permitir a liberdade, a autonomia, a crítica, a criatividade. Para isso, é preciso mesclar o ultrapassado modelo da exclusividade da sala de aula com formas de tratar, simultaneamente a indução (ensino) e a dedução (aprendizado), dando a tais processos o sentido político real criando, a partir daí, cidadãos conscientes e não mais, meros oprimidos à mercê da vontade de outros e, não, das suas próprias.
Devemos entender com profundidade o que Rubem Alves (1992) retrata quando revela que “por vezes a maior prova de inteligência se manifesta, justamente, na recusa em aprender. É que o corpo tem razões que a didática ignora. É preciso definir e separar o que é bom para a vida daquilo que só é bom para o lucro – do outro”. Desta argamassa é que será feita a nova educação. Uma educação para, de fato, incluir todos os excluídos, possibilitando o direito legal à cidadania em sua plenitude. É para isto que trabalhamos.
Cristovam Buarque (2005) faz uma afirmação bombástica com a qual concordo inteiramente. Diz ele: “o maior problema da educação é o ideológico. Ao mesmo tempo em que para, reflete e reforça seu pensamento: O único problema da educação é o ideológico”. E é sobre este aspecto que nos debruçamos de corpo e alma, pois não se trata mais apenas do tratamento do teor da educação e da escola. Mas chegamos ao ponto limite em que aí residem os regimes da possibilidade de permanência da vida no planeta. Vida esta que requer muito mais do que o alimento do corpo, o da alma, que consiste nos teores da ética, da poesia, da beleza, respeito, interação e virtudes outras, muitas ainda não contempladas pelos regimes e domínios das nossas instituições escolares.
Conclusão
Por fim, o professor trouxe uma citação. Como o próprio diz em seu texto, “a brilhante citação de Carlos Drummond de Andrade, nosso poeta maior, nosso parceiro de caminhada”:
“… o que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas. E, depois, como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética. Alguma coisa que se “bolasse” nesse sentido, no campo da educação, valeria como corretivo prévio de aridez com que se costumam transcorrer destinos profissionais, murados na especialização, na ignorância do prazer estético e na tristeza de encarar a vida como um dever pontilhado de tédio…”
No post de hoje, trouxemos um texto escrito pelo professor Antonio, que tratou do tema educação inclusiva como forma de superar a crise educacional. Durante o texto, o professor falou de assuntos muito importantes, como os paradigmas e o tri-pé da educação inclusiva. Entender melhor estes pontos é fundamental para que a educação inclusiva realmente faça parte da rotina das escolas.
Em nosso blog, você confere mais textos relacionados a este e outros assuntos.
Notas
(*) Texto suporte do Programa de Capacitação dos Profissionais da Educação pelo Projeto Suave/ Concepções Humanas para a Educação Inclusiva na Sociedade Moderna
(**) Professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). Diretor Presidente do Instituto Humanizar – assessorias especiais para programas de educação. Pesquisador, conferencista e autor de Educação alienante existe (2003); Paradigmas em educação no novo milênio (2009); Escolas & Hospícios – ensaio sobre a educação e a construção da loucura (2012) dentre outros.
Referências Bibliográficas:
- ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. Vozes: Petrópolis, 1986.
- BUARQUE, Cristovam. O que é educacionismo. Brasiliense: São Paulo, 2008. DEWEY, John. Democracia e educação –11ª. Edição. Ática: São Paulo, 1 978.
- DURKHEIM, Émille. Da divisão do trabalho social – Coleção Os Pensadores – Editora do Pensamento: São Paulo, 1 996.
- MANTOAN, Maria Teresa Egler. Inclusão escolar: o que é. Ed. Moderna: São Paulo, 2007.